Assalto...Na Mente

No seu caminho em direcção ao banco, o Jose António (o nome é fictício) vai muito pensativo, estado "normal" do Ser Humano...

O seu fluxo mental (assim como o de todos nós, aposto em dizer) está preenchido com uma conversa consigo próprio sobre coisas "importantes".
O que dizer ao colega de trabalho que tem a mania que é mais "esperto" que ele, como conseguir adquirir um novo carro pois aquele que tem já não serve, na "seca" que vai apanhar ao chegar a casa e ter que manter as aparências de um casamento "normal" ( e normal diga-se sem Sentido, sem Vida e sem Alegria) no jogo que o benfica fez em que o treinador ia estragando tudo, em que partido irá votar para que algo possa mudar e qual a próxima manifestação que irá aderir contra o governo ( governo esse que ele elegeu e é estranho como depois de já ter feito parte de todos os partidos há mais de 30 anos, nada tenha mudado)
E o ciclo mental continua, só por vezes, por alguns segundos quebrado pelo prazer de um cigarro (prazer esse que já nem sente mas sim um alívio de uma dor psicológica, de um vazio angustiante que a ilusão de um cigarro vai preenchendo só para cada vez mais o "abismo" ser mais profundo)

Mas eis que na fila do banco algo corre mal e um assalto acontece... estando na hora "errada" no local "errado" não tem como evitar nem para onde fugir.

Na confusão e nervosismo, o António é feito refém e é-lhe encostada uma arma à cabeça... e pelo ar inexperiente do jovem que a aponta e pelo clima psicológico extremamente pesado,  percebe que isto não é a fingir e que algo realmente pode e vai correr mal...

E a mente pára...e o António acorda... e as únicas imagens mentais que agora tem são das pessoas que Ama, e que nem disso se dava conta na sua Vida "normal, socialmente estável e responsável".

Numa situação em que o medo é Real, é engraçado reparar que o Verdadeiro Amor está sempre lá também...quando foi que alguém que estava num avião em que as coisas estavam a correr mal com possibilidades de queda se lembrou de dividas externas e "lições" para dar aos outros?
Quando foi que sempre que estivemos numa situação psicologicamente mais insegura nos lembrámos do erro do árbitro no jogo de futebol de sábado à noite?

Não estaremos nós, diariamente, a sermos assaltados pela nossa própria mente? Não será ela que todos os dias nos leva para a ilusória e estagnada "segurança" dos nossos mesquinhos pensamentos?
É triste que para quase todos nós, seja só numa situação limite que acordemos para o que é realmente essencial e que, mesmo sem nada dizermos, aqueles que são mais sensíveis irão perceber que todo o nosso "arrastar" diário seja um "grito mudo" para que algo Verdadeiramente Grave nos aconteça na Vida e nos salve...de nós próprios.

(o que aconteceu ao Antonio, que cada um se coloque no seu lugar e lhe dê o final que quiser...)


Foto: Michel Januario