Uma História... (Verídica?)

As bancadas eram de madeira, já envelhecidas por imensas exposições solares e chuvas sazonais.

Um menino, (chamemos-lhe Alexandre) brincava com o seu carrinho preferido, numa inocência como (só?) as crianças conseguem sentir e desfrutar, quando de repente algo aconteceu...
Ao deslizar o seu carrinho na bancada, sem querer, tropeça e eis que joga a mão à madeira, sentindo uma picada aguda no seu dedo... uma farpa de madeira tinha acabado de o perfurar, causando uma dor e um sentimento de insegurança muito desconfortável. Uma lágrima começa a querer cair, mas de repente, um pensamento surge... "Minha mãe vai abraçar-me e a dor passará logo logo"

Sentada numa bancada um pouco mais acima, fumando um cigarro, de cabeça enfiada em revistas cor de rosa e falando ao telemovel com um palavreado espalhafatoso, lá estava a sua mãe (chamemos-lhe Amélia).

Depois de algumas lágrimas terem corrido pela face do Alexandre e de por várias vezes a ter chamado, eis que a Amélia dá-se conta que algo de "chato" aconteceu... O Alexandre só queria ser confortado, por isso, em tom trémulo, diz... "Mamã, dói a mão"


"Dói a mão????" - Foi a resposta em tom um pouco agressivo, logo agora que estava na folha da revista em iria saber quem tinha comprado um vestido novo para levar a alguma festa qualquer.


"É bem feita... É para aprenderes... Para a próxima será pior... És mesmo um mariquinhas..."

(és mesmo um mariquinhas... Mariquinhas...MARIQUINHAS...) (em milésimos de segundo, a sua mente faz o seguinte encadeamento: "Não Sou Forte...Minha Mãe Não Gosta De Mim Por Ser Fraco... Tenho Tanto Medo De Ficar Sozinho...Se Volto A Queixar-me Não serei Mais Merecedor De Amor E Vou Ser Gozado..."

Anos mais tarde, eis que chega uma carta da escola para a Amélia, mãe e encarregada de educação do Alexandre...
 - " Urgente...Vimos por este meio convocar uma reunião, pois o Alexandre, mais os seus "amigos" que mais parecem um gang, acaba de enviar um seu colega para o hospital com possível fractura dos ossos do nariz e maxilar, pois recusou-se a fumar o cigarro que o obrigavam"
Passaram- se mais 5 anos... numa noite fria e ao pé de uma ponte, eis que Alexandre, por fim resolve dar um passo em frente e experimentar a derradeira sensação dos fortes... Heroína na sua forma mais forte...Injectada e pensa:


" Vês mamã, como sou forte? Já não choro mais com farpas espetadas, pois até nem de agulhas já tenho medo... espero que assim gostes de mim de novo"

 A partir daqui, cada um dê o final que queira a esta história e imagine se será mesmo verdadeira ou ficção...

Mais que uma farpa na mão, o que ficou encravado naquela tarde de completo desleixo e desatenção, foi uma estaca na mente do Alexandre... estaca essa cravada com palavras e comportamentos que perfurou a sua mente até ao coração...e como foi colocada tão funda e de uma maneira tão violenta, ganhou ferrugem e jamais o Alexandre conseguiu arranjar maneira de a retirar e sarar a sua dor.

TOMEMOS MUITA ATENÇÃO COM O NOSSO "NORMAL" COMPORTAMENTO E PALAVREADO DE MERDA (sim, foi utilizada de propósito esta expressão).
VENDO BEM AS CONSEQUÊNCIAS A MÉDIO E LONGO PRAZO QUE PODEMOS CAUSAR, SOMOS LEVADOS A ENTENDER QUE NÃO EXISTEM TAIS COISAS COMO "PEQUENAS E INSIGNIFICANTES"... E, QUER GOSTEMOS QUER NÃO, NESSE COMPLETO DESLEIXO, ESTAMOS A CONTRIBUIR PARA "ASSASSINAR" O QUE DE MAIS PRECIOSO TEMOS NA VIDA...NOSSAS CRIANÇAS!!! (e não só)


Foto: MIchel Januario